Só quem não viveu na Beira, em Moçambique, é que não
conheceu o Jardim do Bacalhau.
Tinha esse nome por causa do seu feitio, era um triângulo
isósceles de grande altura comparada com a sua base.
As árvores existentes eram de grande porte e faziam boas
sombras, lembra-me do escorrega, enorme, comparado com aqueles que há por cá.
Lembra-me que um dia escorreguei tantas vezes por ele abaixo, que apanhei um
escaldão, pois era metálico e o Sol conseguia apanhá-lo por entre as ramas das
árvores.
Também havia um balancé, mas não era o meu preferido. Outros
dos meus favoritos eram os baloiços, que davam para crianças “grandes”, pois
não eram só para os bebés como aqueles que há por cá. No baloiço podíamos voar,
quando balançávamos para trás, víamos quantas vezes conseguíamos ir mais alto
que a sua estrutura e quando balançávamos para a frente, esticávamo-nos todas
para tocarmos com o pé nos galhos das árvores.
Lembro-me que, quando era pequena, pedir para irmos ao
Jardim do Bacalhau, mas mais tarde já podíamos ir pelo nosso pé, sem pedir
licença.
Ainda me lembro de irmos para uma “pequena” rampa, que havia
perto do Jardim do Bacalhau, uma rua a descer desde a “Marginal”.
Na parte de cima da rampa, montada na bicicleta tomávamos balanço e sem os pés nos pedais
víamos quem mais longe conseguia chegar. Tivemos sempre sorte, pois nunca apareceu
nenhum carro, porque se não seria “Mãe, sem pés… Mãe, sem mãos… Mãe, sem dentes”.
A última vez que lá estive lembro-me de ver 2 indivíduos, ou
eram 3 (?), descalços, rotos, quase sem camisa, mas armados até aos dentes,
estavam ao final do Jardim, na parte estreita. Quando chegamos a casa e
contámos o que vimos, ficámos proibidos de sairmos de casa. Nunca mais lá
voltei.
Também agora já não há fim-de-semana, por mais prolongado que
seja, que me permita “ir à terra”. É por
isso que nunca mais voltarei lá!
………..
Parece que as árvores continuam por lá: Imagem na net
Mas os baloiços e o escorrega já devem ter feito “uafa”, só
vejo bancos e mesas de pedra: Imagem na net